Os <i>Consigliere</i>

Henrique Custódio

Os de­sen­vol­vi­mentos do caso Es­pí­rito Santo não ex­põem uni­ca­mente os ma­le­fí­cios da in­fluência de uma fa­mília de ban­queiros; também evi­den­ciam o afun­da­mento des­pu­do­rado do Go­verno do PSD de Passos Co­elho na mi­xórdia, há muito co­zi­nhada por su­ces­sivos pró­ceres do au­to­de­sig­nado «par­tido so­cial-de­mo­crata».

En­ce­nando in­di­fe­rença, Passos Co­elho não he­sitou em trans­formar a sua in­ca­pa­ci­dade em pôr o Es­tado a in­tervir des­ca­ra­da­mente em favor dos Es­pí­rito Santo numa in­de­co­rosa far­ronca a afirmar a «in­de­pen­dência do Go­verno» pe­rante os «as­suntos pri­vados de um Grupo».

Mas o truque da «in­de­pen­dência do Go­verno» es­can­carou o jogo ao co­locar na di­recção do BES (o banco do Grupo) um trio fatal: Vítor Bento, um eco­no­mista ne­o­li­beral que Passos e Ca­vaco têm vindo a acri­solar (até fazia parte do Con­selho de Es­tado), João Mo­reira Rato, vindo da em­presa que ad­mi­nis­trava a dí­vida pú­blica (muita dela com­prada/​ne­go­ciada pelo BES) e Mota Pinto, vi­a­jando di­rec­ta­mente da ban­cada do PSD para a pre­si­dência do dito.

A este trio chama o Go­verno de Passos uma «equipa in­de­pen­dente», «tec­no­crá­tica» e «cau­ci­o­nada pelo go­ver­nador do Banco de Por­tugal», lui même, o agora tão in­cen­sado Carlos Costa e que também tem um pas­sado pelos en­co­bertos me­an­dros da Banca tri­lhados por gente do «bloco cen­tral», PS e PSD, mas com par­ti­cular re­levo para este úl­timo. Os go­vernos do PS de­di­caram-se mais às em­presas de cons­trução civil em­bora, ob­vi­a­mente, nunca des­cu­rando os in­te­resses dos exmos ban­queiros.

Muito andou a «fa­mília Es­pí­rito Santo», desde que o se­gundo da ge­ração foi um fer­vo­roso apoi­ante nazi e o con­se­lheiro de Sa­lazar que reunia com ele se­ma­nal­mente. A na­ci­o­na­li­zação do BES no 25 de Abril foi mero con­tra­tempo e as pri­va­ti­za­ções abertas por Ca­vaco Silva, en­quanto chan­celer, iriam re­compor o Grupo em nova li­gação es­treita ao poder, agora em de­mo­cracia, o que não im­pediu que o GES, sob a ba­tuta de Ri­cardo Sal­gado, fi­zesse e des­fi­zesse go­vernos a bel-prazer. Fi­caram cé­le­bres in­ter­ven­ções suas, seja a de­ter­mi­narem a queda de Só­crates e a en­trada da troika, seja a par­ti­cipar (!) num con­selho de mi­nis­tros de Passos, dias antes de ele as­sumir sé­rias de­ci­sões (gra­vosas como sempre) pe­rante o País.

O PSD (e em menor ex­po­sição o PS) está en­ter­rado até ao pes­coço com a Banca, a quem os seus go­vernos foram en­tre­gando pau­la­ti­na­mente a in­fluência e as ré­deas sobre o poder de­mo­crá­tico do País, de­sem­bo­cando nos es­cân­dalos BPN e BPP – ambos di­ri­gidos por um for­mi­gueiro do PSD – e agora na «so­lução» do BES, que co­loca à frente do banco – e para subs­ti­tuir a «fa­mi­glia» Es­pí­rito Santo, cujas burlas ban­cá­rias a tor­naram in­com­pa­tível com a função – um trio de in­de­fec­tí­veis «la­ranjas».

Fi­nal­mente, o PSD pu­bli­citou-se como uma es­pécie de con­si­gliere da fa­mília Es­pí­rito Santo.




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